domingo, 14 de agosto de 2011

Estudo identifica sítios arqueológicos submersos do baixo Vale do Ribeira

Vapor Conde D`Áquila 


Tratava-se de um navio de propulsão mista, a vapor e vela, que fazia a viagem entre o Rio de Janeiro e Florianópolis, com algumas escalas, entre elas Iguape e Cananéia, a serviço do Império do Brasil. Rambelli conseguiu localizar a embarcação depois de estudar os registros históricos sobre ela. "Em um documento de 1858, um viajante conta que, ao passar pela região de Cananéia, viu afundar os últimos mastros de uma embarcação a vapor que pegou fogo naquele ponto", conta.
O naufrágio impressionou tanto a população da região que deu origem a uma lenda. Diz ela que, quando o navio passou por Cananéia, a tripulação teria cometido uma blasfêmia, dizendo que, se faltasse carvão para as caldeiras, queimaria as pernas da estátua de são João Batista, padroeiro da cidade. Por castigo do santo, o navio foi vítima de um incêndio e afundou. "Contextualizada historicamente, essa lenda pode representar uma manifestação da resistência da população local à modernidade, visto que a tecnologia de propulsão a vapor da embarcação estava se sobrepondo à dos tradicionais barcos a vela, comuns na região", explica Rambelli.
Segundo ele, na época do naufrágio do Conde d’Áquila, Cananéia praticava com excelência a construção naval tradicional, com mais de 17 estaleiros, e não sofria uma ingerência estatal tão poderosa. "Os navios a vapor, como oConde d’Áquila, simbolizavam esse controle do Estado, assim como uma mudança na concepção tecnológica náutica", explica. "Aqueles navios só poderiam ser reparados em grandes estaleiros no Rio de Janeiro. Assim, a lenda surge como resistência de uma sociedade que se sentia ameaçada por aqueles novos valores.

O pesquisador explica que em 1937, a Marinha precisou dinamitar os destroços do vapor, localizados ao lado do píer da balsa de Cananéia, pois eram um obstáculo para a navegação local. Já nos anos 80, moradores da cidade contrataram uma empresa de mergulho para localizar um suposto tesouro que estaria no Conde D`Áquila. "Apesar de tantas intervenções, os destroços do vapor ainda têm importância histórica e cultural. Além disso, quando mergulhamos, não encontramos nenhum tesouro, mas sim uma certa quantidade de carvão, o que nos deu argumento para contestar a tese de `castigo divino`", brinca Rambelli.



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